Azulejos figurativos portugueses

Por Estácio Fernandes

Estácio Fernandes, o restaurador, está de pé, posando para a foto. Atrás dele, encontra-se um belo painel de azulejos.
Estácio Fernandes

O azulejo, segundo Eldino da Fonseca Bracante (1981), é classificado na categoria da cerâmica esmaltada sendo constituído de uma base de terracota, argila queimada ao fogo, tendo a face principal ou artística esmaltada com pigmentos minerais e óxidos metálicos.

Temos que observar que o azulejo não pode ser visto como um objeto autônomo, mas como um objeto inserido em vários contextos políticos, sociais, econômicos e artísticos, que esclarecem o seu lugar nos diversos momentos históricos. E para isso, faremos um breve histórico da inserção do azulejo em Portugal e então no Brasil.

Os primeiros exemplares de azulejos foram levados para Portugal por Dom Manuel, o Venturoso, rei de Portugal e dos Algarves entre os anos de 1495 e 1521, segundo encomenda feita à oficinas de Sevilla (Espanha), ainda etos numa técnica de corda seca ou conhecidos como azulejos hispano-mouriscos e colocados no Palácio Nacional de Sintra.

A produção portuguesa só vai surgir na segunda metade do século XVI, sendo os azulejos produzidos na técnica dos maiólica (ou majólica), introduzida em Sevilla pelo italiano Francesco Niculoso Pisano, que constituía na aplicação de esmalte estanífero sobre a chacota do azulejo propiciando uma superfície lisa na qual a pintura decorativa era aplicada com pincéis usando pigmentos minerais para realização da decoração.

As primeiras produções de painéis azulejares surgiu com a produção de Francisco e Marçal de Matos e tratava-se de uma produção erudita demonstrando grande qualidade técnica quanto ao domínio do desenho e da técnica da pintura tendo azulejo como suporte.

Vale lembrar que o azulejo português é o único no ocidente que expressa uma gramática artística com as diversas nuances estilísticas. Sendo perceptível, no início da produção, características renascentistas quando este era o estilo da época, bem como as mudanças posteriores para o barroco, rococó, neoclássico, até os estilos mais contemporâneos.

Quando Dom Sebastião desaparece na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578, o trono fica vago e este fato histórico vem a criar uma crise política e econômica em Portugal, que afetaria a produção azulejar, neste período estava em vigor a produção erudita de Francisco e Marçal de Matos. Por não ter herdeiros, o trono é ocupado pelo tio de Dom Sebastião, o bispo Dom Henrique, que já doente vem a falecer em 1580, sendo o trono ocupado por Felipe, da Espanha. Começa aí um período conhecido como união ibérica, com duração de 60 anos, no qual a coroa portuguesa foi anexada a coroa espanhola. Com a anexação, a nobreza portuguesa perde poder político e econômico o que vai refletir na produção azulejar portuguesa produzida pelos de Matos.

Justo neste período, entre o século XVI e o início do XVII, Portugal passa a produzir uma azulejaria mais simples, feita por artesãos habilidosos com estampas inspiradas nos tecidos ítalo-flamengos e indianos, configurando assim a tipologia chamada de tapete, que vai dominar a produção portuguesa na primeira metade do século XVII. Por volta de 1620, o azulejo do tipo tapete chega no Brasil através da região litorânea do nordeste, notadamente entre Olinda e Recife, Salvador e recôncavo baiano.

Durante a segunda metade do século XVII, após a restauração política da coroa portuguesa, iniciou-se a produção figurativa portuguesa, com cenas religiosas e mundanas predominantemente em azul e branco, em parte devido ao modismo influenciado pela porcelana chinesa que entrava na Europa naquele período.

O século XVIII, entretanto, é o grande período da azulejaria figurativa da escola dos grandes mestres iniciada por Gabriel del Barco, Antônio de Oliveira Bernardes e outros autores com trabalhos artísticos no Brasil como Antônio Pereira, Policarpo de Oliveira Bernardes, Teotônio dos Santos, Valentim e Sebastião de Almeida, Francisco de Paula e Oliveira e Francisco Jorge da Costa. 

E é no século XVIII que estão situados os painéis figurativos da Academia de Letras da Bahia, dentro de uma concepção artística de boa qualidade e recentemente restaurados, sendo entregues à sociedade em novembro de 2023.

Referências:

BRANCANTE, Eldino da Fonseca. O Brasil e a cerâmica antiga. São Paulo,SP. Lithographia Ypiranga, 1981. 741p.

Pular para o conteúdo