Presidente da Academia de Letras da Bahia, professor e antropólogo Ordep Serra lança novo livro na próxima quarta-feira (25), na sede da ALB
‘Heidegger na caverna’ levanta questões relacionadas ao filósofo alemão Martin Heidegger
Antes de ficar mais conhecido como ‘o filósofo do nazismo’, Martin Heidegger (Alemanha, 1889-1976) manifestou seu interesse pelos pensadores e poetas da Antiga Grécia, e direcionou seus estudos para os mesmos. Ao lado de nomes como Nietzsche, Wilamowitz-Möllendorf e Werner Jaeger, ele acreditava que os gregos eram imprescindíveis para enfrentar os problemas modernos e apontar soluções. E é justamente a interpretação do filósofo alemão sobre os helenistas, mais especificamente o Mito da Caverna de Platão, o mote do livro ‘Heidegger na caverna’, de Ordep Serra, publicado pela editora Odysseus.
O lançamento será no dia 25 de setembro, próxima quarta-feira, às 18h, no Palacete Góes Calmon, em Nazaré, sede da Academia de Letras da Bahia (ALB), com sessão de autógrafos e bate-papo sobre a obra.
De acordo com o escritor, Heidegger foi um dos mais importantes filósofos do século XX, com uma influência muito grande ainda no mundo contemporâneo, principalmente por conta de sua obra ‘Ser e Tempo’ (1927). “Discuto muito suas contribuições à filosofia e também do ‘problema Heidegger’, um homem que, ao mesmo tempo que foi muito lúcido, foi estúpido. Essa estranha combinação de inteligência fina, de capacidade teórica com estupidez, porque se tornou nazista, é um problema a ser considerado por todos nós”, afirma Serra, presidente da ALB.
O trabalho avalia temas como a interpretação de Heidegger sobre a Alegoria da Caverna de Platão, uma metáfora da busca pelo conhecimento verdadeiro; e a Teoria da Verdade de Heidegger. Se Platão acredita que somos resultado de vivências e fatores externos, Heidegger entende que Platão diz que somos seres autônomos, independentes e indefiníveis. “O livro focaliza muito a teoria da Verdade de Heidegger, interpretação que ele deu a Platão, que parece equívoca. E uma das questões que eu coloco é: como um homem que contribuiu para o entendimento do que seja a Verdade, foi capaz de engolir aquilo que os alemães chamam de ‘a mentira escandalosa’ do nazismo?”, indaga Ordep.
Declaradamente anti-fascista, o antropólogo e professor baiano acredita que, embora esse não seja o principal objetivo de ‘Heidegger na Caverna’, em tempos de ascensão de grupos de extrema-direita no mundo, faz-se ainda mais necessário discutir o filósofo alemão: “Justamente porque agora o neonazismo e o neofascismo florescem, inclusive em nosso país, é preciso discutir isso. Ele era nazista, mas ao mesmo tempo teve ideias importantes, não podemos simplesmente ignorá-lo”.
Heidegger para todos
Em suma, a obra leva até os leitores um conjunto das ideias de Heidegger, desde sua fase inicial, em ‘Ser e Tempo’, até a reviravolta nos anos de 1930. “Serra é assaz generoso com seus leitores, e sua escrita exibe uma liberdade próxima da acrobacia: ao mesmo tempo que explica o pensamento de Heidegger, lança mão de comentadores renomados para tomar suas posições e faz todo o trabalho sério de um acadêmico, ele também deixa-se levar por digressões, recorre à tradição literária, à mitologia e, sobretudo a um estilo leve e algo aforismático”, analisa M.R. Engler, editor do livro, que assina o prefácio.
Apesar do tema, engana-se porém, quem pensa que ‘Heidegger na Caverna’ é voltado apenas para especialistas na área da filosofia: “Além da discussão dos principais marcos de extensa obra de Heidegger, algo por si só instrutivo para estudiosos do filósofo alemão, o livro oferece ótima oportunidade de pensar, de modo amplo e intrigante, quem eram os gregos e, sobretudo, como foram apropriados, interpretados, glorificados ou reduzidos na modernidade… É, antes, um diálogo franco e bem informado, em que a ironia, o humor e a divergência sadia se fazem presentes”, ressalta Engler. Professor da Universidade Federal do Paraná, ele também estará no evento de lançamento, em Salvador.
Sobre o autor
Ordep Serra é escritor, professor e artista. Com bacharel em Letras, Mestre em Antropologia Social pela UnB e Doutor em Antropologia pela USP, recebeu em 2023 o título de Professor Emérito da UFBA. Tem mais de 30 livros publicados, dentre os quais: ‘A Devoção do Diabo Velho’; ‘Águas do Rei’; ‘Dois estudos Afro-brasileiros’; ‘Um tumulto de asas – Apocalipse no Xingu’; e ‘Veredas: Antropologia Infernal’. Foi três vezes premiado em concursos nacionais de literatura e é membro Titular da Cadeira 27 da Academia de Letras da Bahia, instituição na qual está em seu segundo mandato como presidente.