Compromisso com a democracia e com a manutenção do estado democrático de direito

Por ORDEP SERRA
PRESIDENTE DA ACADEMIA DE LETRAS DA BAHIA

Há pouco assistimos a um escandaloso ataque contra a democracia brasileira. Mais um. Já antes o terrorismo se manifestara no Distrito Federal de forma impudica, violenta e insolente, com tímida reação de policiais cuja tolerância para com os agressores era manifesta. Desde o término do processo eleitoral, em todo o país, bandos de desocupados se reuniam diante de quartéis, pregando o golpe, pedindo ditadura. Infelizmente acharam abrigo na leniência de autoridades que deveriam repelir sua insana demanda. No dia oito de janeiro deste ano de 2003 chegou ao cúmulo o desaforo criminoso, num assalto bárbaro às sedes dos três poderes. Pessoas bestializadas, tendo à frente bandidos da pior espécie, invadiram o Palácio do Planalto, assim como os edifícios que sediam as duas câmaras do Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Era evidente seu propósito de atingir o coração das instituições republicanas. Antes que sua brutalidade fosse contida, promoveram um triste espetáculo de violência, grosseria e vandalismo. Para maior acinte, muitos dos vândalos se mascaravam com símbolos da pátria. Um deles deu-se ao desplante de defecar num salão do Congresso Nacional enrolado na bandeira do Brasil. Sua atitude exprime bem a verdadeira natureza do “patriotismo” que seus companheiros, instigadores e cúmplices tanto alardeiam. A destruição de patrimônio público transcorreu de forma galopante. Obras de arte valiosas foram bestialmente mutiladas. Manifestou-se assim, da maneira mais crua, o ódio à inteligência, à arte e à ciência característico de seus líderes, marca nefanda de sua conduta política. A Academia de Letras da Bahia, fiel à tradição civilista e republicana de seus fundadores, fiel ao empenho de muitas gerações de membros ilustres de seu sodalício na defesa da cultura, logo se pronunciou condenando a barbárie do sinistro atentado. Volta a fazê-lo agora, reiterando seu compromisso com a democracia, com manutenção do estado democrático de direito. As cenas brutais que escandalizaram o Brasil e o mundo no oito de janeiro último não devem ser esquecidas. A impunidade alimenta o crime. Esconder o mal equivale a perpetuá-lo. Por isso fazemos aqui de novo o registro de nossa indignação. Ao mesmo tempo, queremos reafirmar nossa disposição renovada de dar combate ao obscurantismo. Dele se alimenta a insânia dos vândalos, dele se nutre seu desprezo pelos direitos humanos, pela civilização e pela democracia. É obrigação das instituições culturais defender a inteligência, contrapor-se à barbárie. Não faltaremos a este dever.

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