Ordep Serra
Presidente da Academia de Letras da Bahia
Exmo. senhores representantes do Excelentíssimo Secretário de Cultura e da Excelentíssima Diretora do IPAC, demais autoridades presentes, queridas confreiras, caros confrades, senhoras e senhores.
Ao tempo em que agradeço a presença de todos e os saúdo com alegria, passo ao rito singular em que tomo posse de um honroso cargo, sucedendo a mim mesmo. Sei que isso já aconteceu muitas vezes nesta Academia, mas acho curioso. É a primeira vez que me substituo. Ainda bem que não usamos faixa.
Como exige o protocolo e a sensatez recomenda, este discurso, marco de passagem, será dedicado a um retrospecto e a um breve anúncio. De acordo com a praxe, devo fazer uma sucinta prestação de contas: um apanhado das atividades da gestão que se encerrou, a primeira em que tive a honra de presidir tão ilustre Casa. O protocolo pede que o novo presidente fale de sua plataforma, de seu projeto. A rigor, eu teria de fazer dois discursos em um. Mas seria abusar muito da paciência de meus ouvintes. Por isso enxugarei ao máximo a parte prospectiva, quase digo heráldica, de minha fala. O retrospecto não posso eludir: nossa tradição impõe que no momento da transição se reporte de modo sumário o que foi feito nos dois anos da gestão finalizada. Como todos sabem, foram tempos difíceis. Nunca é demais lembrá-lo.
Em pouco passarei a usar o plural na auto-referência como enunciante desta alocução, mas antes de fazê-lo advirto que não se tratará, de modo algum, do pomposo plural majestático. Há de ser apenas a justa indicação de que falo por um coletivo, ou seja, em nome de uma Diretoria corajosa, que enfrentou a tormenta.
Assumimos nosso encargo numa situação de calamidade, em plena pandemia, num período triste pelo efeito combinado de duas pestes, a sinistra virose pandêmica e a barbárie genocida que a incrementou. Foi um tempo ingrato para a inteligência, para o cultivo de saberes e artes no Brasil: no plano federal tinha lugar uma política de asfixia que atingiu com brutalidade as instituições culturais de todo o país, privadas de apoio, de incentivos, dos recursos a que fazem jus, submetidas a perverso estrangulamento financeiro e a hostilidades contínuas, ao compasso de reiterados ataques à democracia. Tempo de trevas. Façamos votos de que essa escuridão nunca mais retorne.
A pandemia nos obrigou a ficar por longo tempo sem o convívio acadêmico direto. Tivemos de manter fechadas as portas de nossa sede por dois terços do período correspondente à gestão que ora se encerra. Enfrentamos problemas de toda a ordem. Mas fizemos avanços. Desde que assumimos a Direção da Casa, a luta pelo equilíbrio da nossa precária situação financeira pode ser acompanhada por todos os membros do sodalício, pois optamos pela transparência plena: publicamos mensalmente em nosso site boletins sobre o estado de nossas contas, informando em pormenor a aplicação de nossos parcos recursos, os débitos e os ingressos. Entre os avanços consumados nessa esfera, destacamos o aumento da receita livre, alcançado mediante o controle de gastos. Assim passamos a ter uma pequena margem para investimento em fundo de caixa e em infraestrutura. Além disso, conseguimos renovar um convênio com a Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, convênio que havia seis meses se achava suspenso. Com isso triplicamos a receita proveniente de convênios, em comparação com o quadro encontrado quando assumimos.
A Secult tem reconhecido os esforços que fizemos no sentido de regularizar nossa situação e está a par de nosso empenho em manter-nos em dia com suas demandas de prestação de contas do financiamento dela recebido mediante um TAC cuja renovação ora esperamos com ansiedade. Todos sabem dos embaraços que a demora dos repasses nos acarretam. Agradecemos a ajuda dos técnicos da Secretaria com quem dialogamos e reconhecemos a boa vontade que mostrou para conosco a querida ex-Secretária, mas sempre amiga, Arany Santana. Temos plena certeza de contar com o firme apoio do novo Secretário, o caro amigo Bruno Monteiro, com quem compartilhamos muitos ideais. Sabemos também da importância que confere à cultura o Governador Jerônimo Rodrigues, e sua disposição de fomentá-la nos dá grande alento.
Ao tempo em que relembramos algumas de nossas iniciativas, vamos falar também de percalços e de obstáculos que tivemos de superar. Logo no início da gestão que ora se encerra, conseguimos resolver um grave problema, saldando um débito para com o Condomínio do Edifício Santo Amaro, onde temos um imóvel, um apartamento herdado do saudoso acadêmico Clóvis de Lima — um patrimônio que estivemos a ponto de perder, pois uma sentença judicial já autorizava levá-lo a hasta pública. Tivemos êxito na difícil negociação graças à perícia, ao empenho e à boa vontade dos beneméritos advogados Eugênio Kruchewsky e Patrícia Kruchewsky, a quem hoje vamos render justa homenagem, ainda nesta sessão. Assim conseguimos suspender um bloqueio parcial de nossas contas e evitar um prejuízo que poderia agravar-se de modo calamitoso. Não só mantivemos o imóvel, no qual fizemos reformas, como também o alugamos em seguida, transformando, assim, a aflição de uma dívida crescente em um ingresso positivo em nossas contas. Também alugamos o imóvel sito à Rua da Mangueira, que desde muito se achava sem uso, transferindo ao locatário o ônus de reformá-lo.
Estamos ainda a enfrentar uma questão trabalhista por cuja origem não somos responsáveis. Quanto a isso, temos feito o melhor possível, graças à diligência do ilustre advogado Luís Seixas, que nos representa pro bono. Tal como seus colegas Eugênio Kruchewsky e Patrícia Kruchewsky, o Dr. Luís Seixas faz jus a nossos agradecimentos e também será homenageado hoje mesmo, nesta sessão.
Nossa sede, o belo palacete Góes Calmon, sofreu desgastes severos por conta do longo tempo em que permaneceu fechado, e em função do agravamento de avarias preexistentes. Para dar uma ideia do quadro, basta dizer que tivemos de proceder à remoção de volumosos escombros provenientes de obras passadas e detritos diversos que foram retirados em um grande mutirão de limpeza efetuado por nossos funcionários. Em suma, um volume considerável de lixo e entulho que encheu oito caçambas. Registro com gratidão outro pequeno progresso: a nosso pedido, a COELBA efetuou a troca de todas as lâmpadas antigas do palacete por lâmpadas led, sem dispêndio nosso. Foi uma melhoria e também uma pequena poupança.
Uma medida importante que tomamos permitiu-nos um significativo avanço na preservação do precioso imóvel: pedimos simultaneamente à Fundação Gregório de Matos e ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural o tombamento do Palacete Góes Calmon, em processo instruído por uma exposição de motivos da lavra de nosso confrade, o arquiteto Paulo Ormindo de Azevedo (por sinal, uma das maiores autoridades do país no tocante a patrimônio histórico), anexando ao pedido outros documentos, a saber, testemunhos da historiografia pertinente ao edifício e à instituição, reunidos com diligência pelo historiador Bruno Lopes do Rosário, nosso funcionário, além de plantas e documentação fotográfica, ampliada, esta, graças ao trabalho pro bono da celebrada arquiteta e fotógrafa Lúcia Sampaio, a quem ora agradecemos a valiosa colaboração. Recebida a notificação do órgão municipal ainda no primeiro semestre de 2021 e a do órgão estadual no segundo semestre do mesmo ano, confirmando a abertura dos competentes processos, tivemos base legal para solicitar ajuda do município e do Estado nos trabalhos de preservação de nossa sede. Acolhendo nossa solicitação, apoiada na documentação para tanto requerida, a Fundação Gregório de Matos investiu em reparos importantes em nossa sede: assumiu as despesas de obras de sustentação de um muro lateral em desaprumo, providenciou podas de árvores e a remoção de um tronco morto que ameaçava a segurança de frequentadores da Casa e poderia danificar pequeno trecho do imóvel. Com argumentação semelhante, apelamos à CONDER, que efetuou a pintura interna e externa do palacete e de seu anexo e efetivou o conserto do piso, severamente danificado, da pequena alameda de entrada na Academia. Agradecemos aos amigos Fernando Guerreiro, Presidente da Fundação Gregório de Matos, e Paulo Fernandes, dirigente da CONDER, por sua boa vontade e diligência. Nossa querida Déa Márcia teve também um papel importante no processo, mobilizada que foi por Maria Bethânia, nova acadêmica cuja posse deverá acontecer em breve.
Antes das providências referidas acima, tivemos de efetuar outras intervenções urgentes para a garantia das edificações da nossa sede: reforma total do teto da área onde se situa o nosso arquivo, reforma parcial do teto do anexo onde se acha nossa maior biblioteca e reforma parcial do teto do palacete propriamente dito. A primeira dessas intervenções foi possibilitada pelo Senador Jaques Wagner, a quem ora manifestamos nossa gratidão não só por esta valiosa ajuda como por seu constante apoio. Os outros reparos nos tetos danificados foram feitos com nossos recursos.
Encontramos nossos aparelhos eletrônicos sucateados e nos empenhamos em prover novamente a Casa desses indispensáveis equipamentos, cuidando, ao mesmo tempo, de repor telefones e reconectar a internet na sede. Adquirimos computadores e impressora, câmera de videoconferência profissional, câmera de fotografia profissional com transmissor sem fio e projetores. Substituímos aparelhos danificados de ar condicionado. Assim demos condições de trabalho a nossos funcionários e colaboradores. Com os novos aparelhos nos capacitamos, inclusive, a realizar sessões híbridas que tornam possível a participação de confrades residentes em outros Estados ou municípios. Além disso, efetuamos os necessários consertos em nosso elevador e efetuamos novo contrato de manutenção do mesmo.
Outros avanços merecem registro, pois melhoraram nosso desempenho em termos de comunicação eletrônica, provendo um instrumento de trabalho hoje indispensável a uma instituição como a nossa. Vale a pena referir essas melhorias.
Além de multiplicar suas publicações no website e nas redes sociais, a Academia de Letras da Bahia firmou parceria com a rede internacional TechSoup Global, uma entidade sem fins lucrativos que oferece descontos em softwares e faculta doações de big techs como Google, Microsoft e Amazon, entre outras. A partir do convênio firmado no segundo semestre de 2002 com a TechSoup-Brazil, a ALB obteve de diferentes empresas benefícios gratuitos, exclusivos para ONGs. Da Google adquirimos o Google Workplace, sem nenhum custo, resultando numa economia mensal entre 70 e 100 reais. Com os produtos derivados do Google Workplace, já em implementação, a ALB migrou seu e-mail institucional para a plataforma do Google, mantendo seu domínio @academiadeletrasdabahia.org.br, e passou a utilizar os produtos Google Meet, Google Drive, Google Fotos, entre outros, todos com mais recursos que a versão corrente e gratuita. Esperamos no próximo biênio padronizar a comunicação digital e o compartilhamento de dados entre colaboradores, diretoria e acadêmicos. Antes da implantação do Google Workplace operamos com a Nuvem ALB (nuvem.academiadeletrasdabahia.org.br),, utilizando uma plataforma em software livre que operacionalizou as atividades da nossa equipe de comunicação. Também antes de contarmos com o referido produto constituímos um provisório Acervo de Fotos ALB (fotos.academiadeletrasdabahia.org.br).
Da Microsoftadquirimos 10 licenças do produto Microsoft Office 360, sem nenhum custo, o que corresponde a uma economia mensal entre 800 e 1400 reais, referente às 10 licenças fornecidas, passíveis de ser instaladas em até 5 máquinas cada uma. Com isso, a ALB pode ter, em todos os seus computadores, produtos originais para edição de texto (Word), de planilhas (Excel), de apresentações (PowerPoint), bem como outras ferramentas que a Microsoft disponibiliza e que podem ser implementadas a depender das necessidades e mediante a realização de testes. Da Canva adquirimos 10 licenças do Canva Pro, sem nenhum custo, o que representa uma economia de 2.900 reais por ano, correspondente às 10 licenças obtidas. O Canva Pro é um software online utilizado para os serviços de design gráfico da ALB, recurso que vem conferindo maior dinamismo no desenvolvimento das peças gráficas (cards e assemelhados). Temos ainda a assinalar uma realização digna de destaque neste campo: durante o biênio que ora se encerra implementamos um portal exclusivo para a Revista da Academia de Letras da Bahia (revista.academiadeletrasdabahia.org.br), seguindo o padrão adotado pela CAPES para publicação de revistas digitais. Atualmente a nossa revista é Qualis B na classificação da Capes. É de justiça reconhecer que devemos os avanços evocados à competência de Dr. Ricardo Soares, nosso perito colaborador.
Relembro uma experiência interessante em que nos conectamos com o coletivo Multiconvergência de Redes Globais através da Rede Diálogos em Humanidades para o relançamento de um best-seller da escritora baiana Débora Nunes, evento que alcançou simultaneamente Salvador, Rio de Janeiro, Londres e Paris, além de outras cidades em três continentes. Foi, para nós, uma boa experiência.
Tivemos outros progressos, superamos outros óbices. Depois de longo tempo, voltamos a contar com os serviços de uma bibliotecária e a inspeção que sofremos do Conselho Regional de Biblioteconomia atestou a plena regularização de nossa situação no particular.
Em negociação exitosa com a Secretaria de Finanças da Prefeitura Municipal do Salvador, conseguimos a isenção de pagamento do IPTU do Palacete Góes Calmon e reduzimos para R$ 16.000 um débito de R$ 150.000 reais do mesmo tributo. Somos gratos à ilustre Secretária Giovana Victer por sua compreensão e apoio, prova de um genuíno amor à cultura. Passamos a contar, desde então, com sua ajuda e conselho.
Sofremos um inesperado prejuízo por conta do assalto de drogaditos que invadiram o palacete, furtaram medalhas, peças de metal e fios, coisas que facilmente vendem a receptadores para financiar seu vício. Apelamos ao Exmo. Secretário de Segurança Pública, que nos atendeu de pronto. A Polícia Civil efetuou a competente perícia e a Polícia Militar nos deu grande apoio, multiplicando suas rondas noturnas nas vizinhanças e fazendo-se presente às portas do Palacete em diversos momentos da noite e do dia. Queremos agradecer de um modo especial ao Comandante da Corporação, Coronel Paulo Coutinho, ao Major Pita e seus subordinados pela atenção que nos têm dedicado. Contratamos um vigilante pelo período de um mês, enquanto efetuávamos reparos em portas e janelas e refazíamos alarmes, além de repor câmeras, cujo alcance foi acrescido. O vigilante repeliu mais duas tentativas de invasão, as rondas intimidaram os meliantes e a colocação de concertina nos muros nos deu mais segurança.
Projetamos um acordo com órgãos do Estado para um trabalho em parceria, com vistas à preservação do conjunto monumental de nossa sede e de seu acervo, patrimônio cuja importância para a história da Bahia e do Brasil todos reconhecem. A propósito, há pouco logramos um êxito significativo: vencemos o Edital Jaime Sodré, da Fundação Gregório de Matos, habilitando-nos, assim, a efetuar o restauro dos valiosos azulejos que ornam o Palacete Góes Calmon. Agradecemos à doutoranda Fernanda Pimenta e a nossas colaboradoras Patrícia Si Barreto e Léa Santana por seu empenho, zelo e competência na elaboração do projeto vitorioso.
Estamos empenhados em um planejamento estratégico que nos garanta maior estabilidade administrativa e financeira. Cogitamos de prevenir embaraços e traçar metas com um prazo mais dilatado. As dificuldades são muitas, mas já conseguimos alguns progressos, graças ao esforço da Diretoria, dos nossos funcionários e de colaboradores muito competentes, como o administrador Augusto Barreto, a Dra. Léa Santana e a perita Patrícia Barreto. São ainda muitos os obstáculos que temos pela frente, mas não nos falta ânimo.
A pandemia não nos deteve. Pelo contrário, pisamos no acelerador. Multiplicamos nossas atividades. Conseguimos aumentar exponencialmente nossa presença nas redes sociais, ampliando muito seu alcance. À frente desta iniciativa, o confrade diretor Marcus Vinicius Rodrigues fez excelente trabalho, valendo-se dos competentes serviços técnicos do Dr. Ricardo Soares e da ajuda da comunicadora Marina Moreno. Ousamos dizer que a Academia se mostrou mais ativa do que nunca. Em testemunho disso, temos documentos incontestáveis: cento e oitenta vídeos gravados, disponíveis em nosso You Tube, com o registro de conferências, mesas redondas, lançamentos, entrevistas, seminários, simpósios, cursos e recitais, além das tradicionais sessões solenes de posse, de celebração de efemérides, de homenagens a acadêmicos falecidos e a patronos como Castro Alves, sessões essas quase sempre ampliadas com récitas e apresentações musicais. Seria muito longo e fastidioso referir as diversas categorias de eventos realizados e os números correspondentes, coisa, de resto, desnecessária: pode mostrá-lo uma simples consulta a nosso site, em que o catálogo de vídeos está disponível e é fácil verificar a amplitude do público conquistado, em todo o país. Baste dizer que alcançamos, até o momento, 29.350 visualizações de nossos vídeos. Quem acessa nosso Instagram e nosso Facebook percebe com clareza a dinâmica incessante de nossa produção cultural. Sempre ultrapassamos as metas acordadas com a Secult. E sempre inovamos. Vamos limitar-nos aqui a chamar a atenção para a considerável ampliação do leque temático dos seminários, palestras, entrevistas e conferências da ALB. Além de temas por assim dizer “clássicos”, pertinentes aos campos da literatura, da música, do direito, da filosofia, da história, da psicanálise, da comunicação etc. discutimos assuntos de interesse público tão angustiantes e impossíveis de ignorar como a fome no Brasil, a crise climática, o racismo, a desigualdade. Tivemos pela primeira vez na ALB seminários sobre Arte e Pensamento Indígena, Arte e Pensamento Quilombola, Arte e Pensamento LGBT. Criamos a Tribuna Edith Mendes da Gama Abreu, ocupada já por três vezes por esplêndidas trincas de mulheres respeitadas em todo o país por seu combate à desigualdade de gênero, sua luta contra o sexismo e o fascismo. Recebemos, de uma feita, nove juristas negras, que trataram brilhantemente dos desafios da justiça em nosso país, numa mesa coordenada pela eminente promotora Lívia Vaz. Promovemos palestras sobre economia criativa, ética e inteligência artificial, ecologia, artes visuais. No tocante a cinema, fizemos uma homenagem a Glauber Rocha que contou com a participação de intelectuais da Bahia, de São Paulo, da Argentina e dos Estados Unidos da América do Norte (da Universidade de Cambridge, inclusive). Nosso confrade Marcus Vinícius criou e dirige o projeto Livros na Mesa, com debates sobre obras notáveis da nova literatura baiana e brasileira, recém-lançadas ou não. Criou e dirige também o Palavra e Ponto, em que tem feito entrevistas com nomes importantes da nossa cena cultural. Além disso, ele garante a presença da Academia de Letras da Bahia nas ondas da radiodifusão, como parte de um acordo que fizemos com o IHAC/UFBA e a Rádio Excelsior da Bahia. A querida confreira Heloisa Prazeres propôs, inaugurou e comanda o projeto Poesia na Academia. (Vale esclarecer que nessa iniciativa fomos pioneiros: a Academia Brasileira de Letras nos secundou). Instituímos o Sábado das Artes, programa em que, a cada mês, a querida acadêmica Lia Robatto entrevista grandes artistas baianos que se destacaram na música, na dança, no teatro, nas artes plásticas e em novos campos da nossa criatividade. Mantivemos o tradicional Curso Castro Alves, sob a coordenação diligente do confrade Aleilton Fonseca, e criamos outro, sobre Cultura Baiana, dirigido com brilho por nossa incansável confreira Edilene Matos. Este curso a cada edição reúne um novo elenco de estudiosos da produção cultural baiana. Promovemos encontros com os diretores do Instituto Goethe, do Instituto Cervantes, da Aliança Francesa e da Associação Cultural Brasil e Estados Unidos, a cujas bibliotecas fizemos doações de obras de nossos acadêmicos e acadêmicas. Estabelecemos parceria com a Orquestra Sinfônica da Bahia, com a Fundação Casa de Jorge Amado, com a Fundação Gregório de Matos, com o Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da Universidade Federal da Bahia, com a Fundação Pedro Calmon, com a Associação Baiana de Imprensa, com a Rádio Excelsior, com o Instituto EthikaI, com o Projeto Clima Salvador, com o Fórum de Patrimônio Cultural, com o Observatório Baiano de Economia Criativa e com o Museu de Arte Moderna da Bahia, onde realizamos um belo recital com a direção de nossa inspirada Lia Robatto e a participação de consagrados músicos baianos, do ator/dançarino Oswaldo Rosa e de nossa eloquente Edilene Matos, num evento destinado a evocar os modernismos brasileiros, complementando, com sabor nordestino e as bênçãos líricas de Ascenso Ferreira, as comemorações e debates que já havíamos promovido a propósito não só da Semana de Arte Moderna paulista como também de seus críticos e dos inesquecíveis modernistas baianos.
Logo no começo da gestão passada, tomamos a iniciativa de promover uma reunião das Academias de Letras do nosso Estado. Dessa reunião nasceu a RICA, Rede de Interação Cooperativa das Academias de Letras da Bahia, coordenada por nosso confrade Aleilton Fonseca. A RICA, por sua vez, originou a ELBA, espaço de interlocução dos acadêmicos baianos.
Também nos empenhamos no que se pode chamar de projeto castroalvino, distribuindo livros à mão cheia: fizemos doação de uma centena de volumes à Fundação Pedro Calmon, de mais de setecentos à Secretaria de Educação do Estado da Bahia, de dezenas à Biblioteca de Cajazeiras e de um pequeno lote à biblioteca da Academia da Polícia Militar.
Não descuidamos de nossa memória: por intermédio da Fundação Pedro Calmon, conseguimos a digitalização do conteúdo de dezesseis livros de atas e de quinze números de nossa revista, totalizando cerca de dez mil páginas digitalizadas. Ao mesmo tempo, avançamos em nossa produção bibliográfica. Editamos dois números de nossa Revista, temos outro em preparo. Até o momento, já encaminhamos doze livros para publicação pelo convênio ALBA/ALB. Outros serão enviados em breve. Esperamos fazer no próximo mês de maio um primeiro lançamento da série.
Merece destaque um projeto em cuja implantação muito nos empenhamos e cuja realização devemos agradecer penhoradamente à deputada Alice Portugal. Uma emenda por ela proposta em nosso favor e ao mesmo tempo em prol da UFBA permitiu que contássemos com os serviços de três eminentes professores doutores e vinte alunos da Universidade Federal da Bahia, na maioria graduandos. Esses bolsistas hoje atuam em nossa instituição desenvolvendo um trabalho de valor inestimável, coordenado com brilho por nossa confreira Edilene Matos. É muito o que equipe já conseguiu fazer em pouco tempo para a salvaguarda de nosso acervo. Estamos todos gratos à Professora Ivana Severino, do curso de Arquivologia, à Professora Bruna Lessa, do curso de Biblioteconomia, e ao Professor Ari Sacramento, do curso de Letras, assim como aos estudantes provenientes dos cursos de Comunicação, Letras, Arquivologia, Biblioteconomia, Museologia e do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos, unidade proponente da pesquisa documental histórico-sociológica ora em curso em nossa ALB. As atividades tiveram início em setembro de 2022, com apoio de profissionais da Casa, a bibliotecária Ana Lúcia Reis Fonseca e o historiador Bruno Lopes do Rosário, que têm contribuído de forma decisiva para o bom andamento dos trabalhos. Estes se iniciaram com um curso de capacitação oferecido aos bolsistas e prosseguiram com a elaboração de cento e noventa e cinco textos biográficos sobre acadêmicas e acadêmicos. Esses textos, já disponíveis para inserção no site da ALB, formam a base para um catálogo em construção. Ao mesmo tempo, quinhentos e três títulos do acervo da Biblioteca Álvaro Nascimento foram inventariados, catalogados e classificados, tornando-se acessíveis para busca no PHL. Procedeu-se deste modo à construção do Catálogo Bibliográfico do acervo da referida biblioteca, em que foram identificadas obras raras e muito valiosas, facultando a criação futura de uma política de obras raras em nossa instituição. Procedeu-se, também, ao levantamento, na sala Odorico Tavares, de periódicos que constituem fontes preciosas para o estudo do modernismo na Bahia. Seu exame deve possibilitará a elaboração de uma antologia. Esboçou-se o projeto de uma hemeroteca digital apta a disponibilizar o acesso amplo a esses periódicos e teve início o estudo das correspondências de acadêmicos de 1917 a 1930. Acha-se em fase de experimentação o emprego do Tainacan, software de acesso livre que permite a gestão e a publicação de acervos digitais (arquivísticos, bibliográficos e museológicos) de forma fácil e intuitiva. Passou-se ao inventário do acervo arquivístico dos acadêmicos com vistas à identificação dos tipos documentais, dos quantitativos de documentos e do custo para digitalização de todo o acervo. Até o momento foram identificados mais de mil documentos e novecentas e sessenta e uma fotografias. Iniciou-se a construção de um glossário de termos para a descrição do acervo da ALB, tendo sido já descritos cento e sessenta e dois desses termos. Além disso, iniciou-se o que deverá ser nosso primeiro núcleo de projetos para captação de recursos. O início foi brilhante: como já foi dito aqui, a estreia se deu com um projeto vitorioso no Edital do Prêmio Jaime Sodré de Patrimônio Cultural, em que a ALB foi contemplada com a aprovação de sua proposta de restauro dos painéis de azulejos do Solar Góes Calmon.
Convenhamos que não é pouco. E já obtivemos da querida Deputada Alice Portugal a promessa de renovação da emenda, a fim de que possamos dar continuidade a esse tipo de ação, um empreendimento que nos aproxima da juventude estudiosa, beneficia sua formação, nos dá acesso à colaboração de professores do maior gabarito e resulta em valorização de nosso acervo, logo em efetiva proteção de nosso patrimônio, ao tempo em que nos capacita para a busca de novos recursos e nos faculta a ampliação de nossa produtividade no campo cultural.
Volto agora ao singular como sujeito da enunciação, pois falarei em meu próprio nome no que resta deste discurso. Quero agradecer aos companheiros da passada gestão e pedir licença a todos para distinguir neste agradecimento uma pessoa tão generosa que com certeza lhes fará participar de todas as graças. Falo da querida Edilene Matos, modelo de Vice-Presidente, dinâmica e serena, solidária, ponderada, amável e disponível sempre. Por sorte vamos contar com seu trabalho no próximo biênio em um posto dos mais importantes. Na vice-presidência terei agora o caríssimo Marcus Vinícius, que por sua lucidez, seu tato, seu dinamismo, sua criatividade e sua ousada prudência bem merece o nome romano e consular. É com alegria que lhe dou posse e junto com ele a todos os companheiros da nova Diretoria: Heloisa Prazeres e Lia Robatto, respectivamente Primeira e Segunda Secretária; Paulo Ormindo de Azevedo e Cleise Mendes, respectivamente Primeiro Tesoureiro e Segunda Tesoureira; Ruy Espinheira Filho, Diretor de Biblioteca; a já citada e louvada Edilene Matos, Diretora de Arquivo; Carlos Ribeiro, Diretor de Informática; Nelson Cerqueira, Diretor da Revista da ALB. Assim emposso também os membros do Conselho de Contas e Patrimônio, a saber, Edvaldo Brito, Fredie Didier Júnior e Evelina de Carvalho Sá Hoisel e por fim, dou posse aos titulares do Conselho Editorial, a saber, Aleilton Santana da Fonseca, Florisvaldo Moreira Mattos e Muniz Sodré de Araújo Cabral.
Reitero meus agradecimentos aos funcionários e colaboradores da Casa, fazendo a todos os meus melhores votos de saúde, paz e sucesso. Quero também agradecer a meus queridos Conselheiros e Conselheiras, que tanto me têm ajudado: Jorge Sampaio, Fernando Guerreiro, Lúcia Sampaio, Walter Barreto, Fátima Mendonça, Maria Marighela, Lívia Vaz, Déa Márcia, Javier Alfaya, Raimundo Lima, Juca Ferreira, Paola Cantarini, Ceuci Nunes, gente boa que se dispõe a trabalhar de graça pelo engrandecimento desta Casa centenária e da cultura baiana. Faço-lhes aqui minha homenagem e prometo dar-lhes mais trabalho, pois é disso que gostam.
Não posso concluir o retrospecto sem uma nota de saudade. Permanece viva entre nós a lembrança dos queridos confrades João Eurico Matta e Cid Teixeira. Eles seguem vivos nas suas obras, no seu rico legado. Não há muito que perdemos também a admirável escritora e tradutora Helena Parente Cunha, nossa correspondente muito querida. Seu brilho ainda nos ilumina.
Em pouco estaremos homenageando nosso patrono Castro Alves pela voz de Edilene Matos, que com muito carinho cultiva sua poesia. Do grande patrono recebemos um belo exemplo e, mais que isso, um mandato de amor à liberdade, à inteligência e à justiça social. Não o olvidaremos. Sua luta contra a escravidão ainda precisa continuar. Também num 14 de março nasceu o nosso inesquecível Glauber Rocha, digno sempre de ser lembrado por sua arte e por sua dedicação ao ideal de um mundo mais justo. Mas também num 14 de março, justamente por defender esse ideal e lutar corajosamente contra a opressão de milícias criminosas, morreu Marielle Franco, brutalmente assassinada junto com seu amigo Anderson Gomes. Celebramos sua memória esperando que sejam finalmente identificados e punidos como manda a lei os covardes mandantes desse crime hediondo.
Iniciamos hoje nova jornada, sabendo que vamos enfrentar muitas dificuldades. Estamos dispostos ao trabalho e cheios de esperança. Temos novos projetos, novos desafios.
Os frequentadores desta Casa, assim como todos os meus amigos, já me ouviram dizer muitas vezes que Academias como a nossa existem para combater o obscurantismo. Essa praga, fonte de inúmeros males, nutre a mentalidade fascista: inspira a barbárie que abomina as artes despreza as letras e a ciência, hostiliza a cultura, ao tempo em que busca ferir de morte a democracia. Não lhe daremos trégua. Sabemos, sim, desde muito, e até por experiência recente, que o obscurantismo é mortífero. Na gestão que ora se inicia pretendemos ter como senha Cultura e Democracia. Temos consciência de que uma não pode prosperar sem a outra. Vamos em breve inaugurar na ALB um programa com este nome, compreendendo muitas atividades: mesas redondas, palestras, cursos, debates, oficinas. Tudo que nós queremos é prestar um bom serviço à sociedade baiana, aos brasileiros e brasileiras, aos homens e mulheres de boa vontade que, no mundo inteiro, cultivam a inteligência e buscam a paz.
Sempre fui adepto de discursos curtos. Evito o quanto posso a oratória gorda, a lengalenga, como se diz em bom nheengatu. Hoje fui forçado a estender-me muito, mas já vou parar. Peço desculpa se abusei da paciência dos amigos. Acrescentarei apenas uma afirmativa: todos nós que hoje recebemos a honra de dirigir esta instituição centenária temos fé em sua capacidade de dar uma contribuição muito positiva ao desenvolvimento cultural de nosso país, defendendo sempre o estado democrático de direito. É nossa meta.
Muito obrigado.