Texto originalmente publicado na Revista da Academia de Letras da Bahia, Janeiro de 2019, n. 57.
Nelson Cerqueira
Sempre no dia de aniversário de Inês, Dom Pedro percorre uma manhã de agonia, querendo sair do túmulo em templo que lhe prende ao século XVI. O infante-rei coroado quer vir ao século XXI, quer a libertação dos fatos e atos que lhe fize-ram refém e celebrar com a amada um novo momento. Julga-se a mais inocente dos homens e às vezes, quando solitário, o mais culpado.
Inês dança em sua mente e Dom Pedro busca um vere-dicto imparcial. Afinal, como julgar a si próprio. De gritos é a sua alma.
– Não me chamem como testemunha! Não tenho dados, nem detalhes concretos a fornecer em depoimentos. Sei que Inês era linda, sei que Inês era divina, pois fui informado pelo poeta maior. Perdi-me nos anéis do amor, nos metrôs subterrâ-neos da paixão. É apenas o que consigo delinear.
Dizem que sou um louco, filho de outro louco, El-Rei meu pai, Afonso IV. Será que fui inocente, inconsequente ou acometido de um momento crepuscular? Lembro-me ainda de minha vingança, viva em cada átomo de Portugal, afirma Dom Pedro em ato de confissão, na Catedral Basílica.
– Mataram Inês, bem que me disseram, mataram Inês, meu pai à frente, loucura dançando em adro de igreja. Mataram Inês, arranquei o coração de Coelho; mataram Inês, maltratei meus fi-lhos; mataram Inês, maltratei meu povo; mataram Inês, matei-me a mim; . Inês não morre, eu vivo o pesadelo. Mas eu gostava tanto de minha mãe. Será que eu matei Inês de minha alma? Não cons-ta. Ou meu pai, odioso Afonso rei?
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